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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Este ano não vai ser igual àquele que passou…

JACIARA SANTOS
 – 24 DE FEVEREIRO DE 2012
Ao alardearem que o Carnaval 2012 em Salvador foi mais tranquilo que o de 2011, as autoridades de segurança pública da Bahia brincam com a inteligência do cidadão medianamente informado. Afinal, o link entre redução da violência e público envolvido na festa não fecha. Se a paz é medida em números, que haja transparência e sejam disponibilizados todos os dados e não apenas aqueles que chancelam a versão oficial.
Numa (como sempre) espetaculosa entrevista coletiva, as mais altas autoridades do Estado festejaram a queda de 16,1% no registro de ocorrências nos circuitos da festa. Maravilha?!… Até poderia ser, caso todo o cenário houvesse sido analisado. Mas, como destaca o professor Jorge Melo, especialista em segurança, no artigo Mídia, liberdade e alienação , o discurso governamental tem um único objetivo: negar que a greve parcial da Polícia Militar afugentou turistas e nativos do Carnaval deste ano.

Acontece que a estratégia não foi bem ensaiada, pois, nem bem os últimos acordes dos trios acabavam de silenciar nas ruas e já se ouvia, alto e uníssono, o choro da indústria do carnaval. De um lado, gemia o trade turístico; do outro, soluçavam donos de blocos e camarotes. De acordo com os hoteleiros, a taxa de ocupação dos hotéis da cidade despencou: nos estabelecimentos situados no circuito carnavalesco, a perda teria sido de 8% e, nos que ficam fora, a queda chegou aos 10% em relação ao ano passado.
Vale lembrar que, tradicionalmente, o período registra ocupação de 100%, ou seja, não dá pra quem quer, como demonstram as estatísticas do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Salvador e Litoral Norte (SHRBS). Como, durante as quase duas semanas da greve da Polícia Militar não houve uma única nova reserva na rede hoteleira, o impacto em fevereiro foi significativo: 40% a menos em relação ao mesmo mês do ano passado.
Homicídio
Tem mais. Através do presidente Fernando Boulhosa, a Associação de Blocos de Trios assume que as vendas de abadás caíram entre 30% e 40% neste ano. A Central do Carnaval também admite redução no volume de procura aos blocos: em torno de 5%, segundo o empresário Joaquim Nery.
A venda de camarotes foi igualmente afetada pela redução no número de turistas. Em entrevista ao jornal A Tarde, o empresário Fred Boat, sócio-diretor de uma empresa que comercializa essas estruturas, contabiliza um encolhimento da ordem de 25% na comercialização dos camarotes voltados para visitantes. “O Carnaval 2012 foi sustentado pelos baianos”, avalia.
Diante das evidências de encolhimento de público na festa, seria espantoso que o volume de ocorrências policiais se mantivesse no mesmo patamar. Mas, se a questão é falar em números frios e descontextualizados, o registro de um homicídio no circuito carnavalesco não é exatamente um dado a comemorar. Há quatro anos, o Carnaval de Salvador transcorria sem o registro de mortes no sítio da festa. Neste ano, na madrugada do terceiro dia da folia, uma briga generalizada na Barra, resultou na morte do jovem Iago de Jesus Santos, 19 anos. E aí?…

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