Por:
VALDECK FILHO
Demitido no último dia 03 da TV Aratu, afiliada do SBT na Bahia, o jornalista Valdeck Filho narra, sob o seu ponto de vista, o movimento grevista de policiais militares que levou pânico à população baiana, assustou turistas que pretendiam ir à Bahia no Carnaval, que corre o risco de não ser realizado no Estado.
Há seis dias a população do Estado da Bahia vem sofrendo com a greve dos policiais militares. Saques, arrastões, assassinatos. A onda de violência instalada na capital baiana fez que o governo utilizasse de todas as formas para suprimir e maquiar as informações do que está acontecendo no Estado.
No último dia 31, quando a Associação de Praças e Bombeiros da Bahia (ASPRA) convocou todos os policiais em uma Assembléia no Ginásio dos Bancários, na capital baiana, para discutir uma pauta de reivindicações para levar até o comando da polícia suas propostas, o imaginável aconteceu: A insatisfação da tropa diante das suas necessidades motivou os policiais a optarem pela paralisação.
Após a assembléia, os policiais saíram em uma carreata com cerca de 300 carros e motos, até a Assembléia Legislativa da Bahia, no Centro Administrativo da Bahia (CAB), onde, desde então, estão acampados. Durante esse tempo o movimento paredista vem tentando dialogar com o Governo do Estado da Bahia, mas sem respostas.
Na última sexta-feira, (03), o governador da Bahia, Jaques Wagner, fez um pronunciamento em menos de 10 minutos em cadeia regional de televisão para condenar a ação dos policiais. Naquele momento, este jornalista (Valdeck Filho), então repórter do programa “Na Mira” da TV Aratu, filiada ao SBT, recebia o anúncio de demissão das mãos de um diretor da emissora na Bahia.
O executivo da empresa não informou os motivos da demissão, mas disse que se sentia mal por dar a notícia triste e que “em outra ocasião a empresa estaria com as portas abertas para retornar”. A notícia da demissão não apanhou este jornalista de surpresa.
Dias antes dos fatos, este jornalista vinha realizando uma série de reportagens que denunciava as difíceis condições de trabalhos dos policiais e suas viaturas. Ao contrário das propagandas do governo estadual que anunciavam aquisições de centenas de novas viaturas e aparelhamento na PM-BA.
No dia 30 de Janeiro, um dia antes na assembléia dos policiais militares este jornalista denunciou a instalação de uma câmera de vigilância no poste em frente ao Ginásio do Sindicato dos Bancários, onde ocorreria a assembléia dos policiais militares no dia seguinte. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública alegou que se tratava de monitoramento para o Carnaval de Salvador.
O fato foi exibido no programa “Na Mira” e, mesmo com as negativas da Secretaria de Segurança Pública de que o equipamento nada tinha a ver com a assembléia dos policiais, estranhamente a câmera foi retirada do local, horas antes da assembléia.
Nos dias seguintes, este jornalista continuou a cobrir o movimento, convivendo diariamente com os policiais grevistas na frente da Assembléia Legislativa da Bahia. A participação deste jornalista foi considerada “subversiva” por alguns setores da comunicação do governo do estado da Bahia.
Este jornalista ficou “marcado” depois de publicar um livro com diversas denúncias contra políticos importantes e o tráfico de influência do governo petista em emissoras de televisão e jornais do Estado da Bahia. Alguns trechos de “Os Bastidores do Na Mira” revelam pressões governistas para censurar reportagens sobre violência, homicídios e crimes políticos no Estado.
Ao longo dos últimos meses, este jornalista começou a escrever na página pessoal do facebook e feito declarações em três rádios locais, acusações contra políticos da situação e denúncias de crimes que poderiam ter o envolvimento de empresários.
Um deles foi à morte de André e Marcos Cintra, pai e filho, assassinados em uma manhã de sexta feira na Avenida mais movimentada de Salvador, a Luiz Viana Filho, também conhecida como Paralela. Os dois teriam denunciado ao Ministério Público um esquema de grilagem de terras, e revelado o sistema de corrupção no judiciário que envolve até mesmo venda de sentenças.
Depois de assinar a demissão, mesmo sem receber uma justificativa por parte da emissora, este jornalista resolveu se juntar aos policiais grevistas na frente da Assembléia Legislativa, tornando-se mais um dos “acampados” e ovacionado pelos militares que se encontravam a quatro dias no local. Naquele momento, este jornalista foi convidado e aceitou ser o assessor de comunicação do movimento.
Na Assembléia Legislativa da Bahia estão mais de quatro mil pessoas entre policiais com suas esposas e filhos. A todo o momento chegava notícias de que exista uma iminência de invasão por parte de guardas federais e do exército. Entretanto, em nota, o governo afirmava que não irá invadir o local, mas ordenou que tropas federais fizessem rondas à noite, com sirenes e giroflex ligados.
Atualmente, 90% dos policiais militares da Bahia, entre soldados e sargentos, estão em greve. Apenas os oficias estão trabalhando. O comando da Secretaria de Segurança Pública autorizou os alunos a oficiais vestirem-se de soldados para passar a imagem de que está tudo normal. A maioria dos militares das cidades do interior aderiu à greve, entre elas Feira de Santana, Vitória da Conquista, Barreiras, Ilhéus e Itabuna. Policiais do Batalhão de Choque em Salvador estão aquartelados e outros presos. Os policias que não foram para Assembléia Legislativa, preferindo as companhias, não saíram das suas unidades.
Desde então, estão sendo utilizadas as redes sociais, e-mails e telefones para jornais internacionais e organizações não governamentais, em todo o mundo, para que nos ajude com esse problema.
Não podemos admitir que a intransigência de um governo, que se dizia democrático, não negocie com os policiais. E para mostrar que queremos o entendimento e o fim do movimento sugerimos até que outras associações mantivessem as negociações. O resultado foi ainda pior. A falta de proposta e os desentendimentos fizeram com que as demais associações se retirassem da mesa de negociações por que os negociadores não apresentarão uma proposta. Como um governo pode optar pela intolerância? O governador Jaques Wagner disse para a imprensa baiana que não negocia com os policiais antes que a greve termine.
O governo ainda vem divulgando na imprensa local que não considera o pleito dos grevistas, contudo, vem utilizando policias leais a ele, para que façam manobras de terrorismo para confundir a opinião pública. Arrastões, saques e ameaça de invasão na Assembléia Legislativa para prender os policiais, além de anunciar em rede local de comunicação o pedido de prisão preventiva dos líderes do movimento.
Todas as noites homens armados fazem rondas ao entorno da Assembléia Legislativa e atiram para o alto com o intuito de criar um clima de tensão e pânico entre os policiais e familiares. Viaturas da Guarda Nacional e caminhões do Exército ficam circulando a noite, ao mesmo tempo recebemos ligações telefônicas que a invasão irá acontecer a qualquer momento.
Temos informações não oficiais que o Comandante Geral da Polícia Militar, coronel Alfredo Castro, tenha sido afastado do posto e um general do Exército assumiu o comando da PM da Bahia.
Outras informações que chegam é que uma parte dos oficiais deseja que o governo aceite a proposta ou negocie os pontos mais importante como a GAP IV, V e anistia dos policiais e a reintegração dos policiais demitidos e que foram anistiados pelo governo que não cumpre a lei de anistia regulamentada pela presidente Dilma Rousseff, que concedeu a anistia aos policiais e bombeiros militares dos Estados de Alagoas, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rondônia e Sergipe que participaram de movimentos reivindicatórios por melhorias de vencimentos e de condições de trabalho ocorridos entre o dia 10 de janeiro de 1997 até a publicação desta Lei e aos policiais e bombeiros militares dos Estados da Bahia, Ceará, Mato Grosso, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Roraima, Santa Catarina e Tocantins, além do Distrito Federal que participaram de movimentos reivindicatórios por melhorias de vencimentos e de condições de trabalho ocorridos entre a data da publicação da lei n° 12.191 de 13 Janeiro de 2010.
Este jornalista acredita que está sendo monitorado pelo setor de inteligência da Secretaria de Segurança Pública, inclusive com rastreamento de ligações telefônicas, e as postagens no Facebook.
História da greve de 2001
O movimento reivindicatório de 2001 que começou por estado de necessidade, que naquela época a Polícia Militar da Bahia, principalmente as praças, não tinham direitos assegurados, como hora extra, adicional noturno, auxílio alimentação, nem acesso a vagas no CPM e, o mais grave, sem reajuste salarial há mais de três anos.
Com a inquietação da tropa, as reivindicações acabaram parando nas mãos da oposição que, naquele momento, brigava pelo poder contra o carlismo. O então governador, César Borges, e a então secretária de Segurança Pública, delegada Kátia Alves, o comandante da PM, coronel Jorge Luís, que não podia fazer muita coisa para minimizar a situação degradante vivida pelos policiais militares.
O movimento classista passou a ter cunho político e partidário com a participação de vários parlamentares do PT e do PCdoB, além da CUT. Como exemplo, o então deputado federal Jaques Wagner, hoje governador da Bahia, o deputado estadual Marcelo Nilo, hoje presidente da Assembléia Legislativa, os deputados federais Walter Pinheiro, e Lídice da Mata, hoje senadores, Nelson Pelegrino, Daniel Almeida, Alice Portugal, deputados federais, e João Henrique Carneiro e Moema Gramacho, ambos atualmente prefeitos de Salvador e de Lauro de Freitas, respectivamente.
Os principais incentivadores da decretação do movimento paredista, que resultou no maior caos já visto na história da Bahia, culminando com o fechamento de bancos, escolas, mercados, shopping centers, paralisação do transporte público, além de saques e arrastões, causando pânico à sociedade baiana e a maior perda de arrecadações nunca antes vista nos cofres públicos e o mais grave, centenas de homicídios entre eles a morte de uma irmã de um promotor, que realizava o saque de um televisor de uma loja no centro da cidade e de dois policiais militares mortos em transporte clandestino.
O inferno estava instalado. Sem comando, o governador César Borges solicitou do presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, o envio de tropas federais para manter a ordem no Estado. Com a chegada do exército, o general Edson de Sá Rocha assumiu o comando da Secretaria de Segurança Pública no lugar de Kátia Alves. O caos perdurou por quatorze dias, treze dos quais outros rebelados estavam presos.
Com o exército no comando da PM, vários oficiais acusaram o soldado Pinto como o responsável pela intervenção militar na Bahia, ao ponto de ameaçá-lo de morte com uma pistola na sua cabeça dentro do quartel dos Aflitos.
Com o aquartelamento de praças que estavam sendo financiados pelos políticos de esquerda com todos os tipos de ajuda, inclusive, insuflaram aos policiais que promovessem a onda de saques nas lojas da Cesta do Povo para abastecer os ranchos dos quartéis.
Aproveitando dessa situação, alguns “traquinos” acabaram arrombando também lojas de eletrodomésticos e postos de gasolinas criando assim o terror na cidade e o pânico na população.
Com a chegada do Exército os covardes esquerdistas debandaram como ratos em um naufrágio deixando os policiais à mercê da própria sorte.
Após o clamor de todo o segmento da sociedade para que o Governo negociasse com os grevistas e com a ajuda do então arcebispo Primaz do Brasil, dom Geraldo Magela, que mediou às negociações, foi aberto um canal de negociação entre o governo e os paredistas.
A libertação dos policiais presos, e 20% no reajuste salarial, pagamento de horas extra, pagamento de adicional noturno, auxílio alimentação, auxílio fardamento, implantação de CPM na capital e no interior, matrículas exclusivas para filhos de praças com fardamento gratuito, promoção para sargento e para policias com vinte e cinco anos de serviço e transferência para reserva com proventos de primeiro tenente.
Entretanto, mesmo com os benefícios garantidos, vinte e cinco policiais militares foram demitidos e outros aglomerados responderam IPM.
Para ganhar as eleições de 2006, o governador Jaques Wagner e pares contrataram os policias demitidos como lideranças, em troca quando assumisse o governo anistiariam todos os policiais demitidos. Algo que nunca aconteceu.
Como o mundo dá voltas, os mesmos que antes eram oposição e apoiaram os grevistas em 2001, hoje são os que condenam e tratam os policiais como marginais.
fonte:thebrazilianpost.info
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