Reflexões do cárcere- parte II- Augusto Junior
Salvador, 22 de Abril de 2012
Paz e bem,
Além da indignação que essa prisão ilegal e imoral tem provocado em mim, paradoxalmente está trazendo uma coisa positiva, tempo para estudar, coisa que a necessidade de sobrevivência em um mundo capitalista eu não tinha.
Estou lendo o livro Elite da tropa 2 , quando iniciei a leitura, só lembrava da fila que se formava na RONDESP-SUL entre eu, Leandro, Barth, Ventura, Marlon e outros para ler o livro de Elder. Não sei se é o estilo de vocês, mas, aconselho a leitura, certamente ele ajudará a compreender as mazelas das polícias no Brasil. Com esse livro é possível perceber como nosso sistema coopta pessoas boas para realizar os anseios pessoais de indivíduos maquiavélicos. Ainda tentarei fazer uma resenha do livro e do movimento paredista da PM em 2012, que como diria o Lula “Algo nunca visto antes na historia desse país”.
Porque essa carta é especifica aos policiais militares e porque falei de cooptação de pessoas boas?
Tomei conhecimento de uma rifa que está sendo vendida na cidade para ajudar os presos políticos de Ilhéus, até aí nada excepcional, boa idéia dos amigos pessoais Carvalho e Valdir. O que me chama atenção é que tem um texto capcioso e cheio de mensagens subliminares que foi veiculado em um site da cidade e como coordenador da ASPRA e atualmente o único preso político no estado democrático de direito, se é que ainda podemos falar assim na Bahia, não poderia deixar de me pronunciar.
Quero inicialmente informar a todos, em especial aos que assinam o manifesto que toda “arrecadação feita serviu, única e exclusivamente para o custeio das despesas da ASPRA”, Sim, e sabe por quê? Porque foi a entidade que durante a prisão, por meio do seu corpo jurídico e de articulações políticas a nível nacional, além de manifestações, atos sociais em Ilhéus, promoveram a soltura de todos.
Até agradeço o reconhecimento e o que foi arrecadado foi gasto com “advogados, combustível, ônibus, passagens áreas, dentre outros”, tudo isso documentado través de notas. Considerando que a conta da ASPRA continua bloqueada até hoje, como pagaríamos o advogado para deslocar várias vezes a capital baiana no intento de impetrar Habeas Corpus? Como possibilitar que ele acompanhasse os PAD’s e os IPM’s? Como pagar o combustível e a locação de dois ônibus para fazer a manifestação em Salvador com fito de libertar ou transferir os policiais para a cidade de Ilhéus? Sinto muito, mas não vejo outra destinação para tais recursos.
Agradeço ainda pelo reconhecimento de que ‘Os recursos não foram suficientes’ para cobrir todas as despesas, quem bem sabe disso é o nosso advogado que tem trabalhado feito escravo sem ter recebido tudo que lhe é devido, assim como nossos estagiários e até a diretoria que trabalha de graça por amor a causa e retira do seu pouco que tem pra manter a entidade funcionando mesmo em meio a essas dificuldades propositalmente causadas pelo sistema com o objetivo de calar única voz combativa das praças da PMBA.
Causa-me estranheza quando se questiona porque os valores arrecadados não foram passados para os presos ou familiares, inclusive eu, se assim fosse, só me restaria uma coisa a fazer não pagar advogado e deixar a entidade fechar as portas, de modo que cada pessoa, sócio ou não sócio teria que constituir o seu próprio advogado, o que seria um contra senso, pois quem colaborou ajudou também a si próprio, ou seja, os recursos retornaram para a coletividade, agora se alguém acha que qualquer dos diretores se apropriou indevidamente desses recursos que formalizem a denúncia à própria entidade, a ANASPRA ou ao Ministério Público Estadual para que investigue alguma irregularidade administrativa. Será que se não locássemos dois ônibus, para fazer o manifesto em Salvador os presos seriam transferidos para a cidade de Ilhéus?
Sinceramente, eu gostaria de saber das dívidas pessoais decorrente dos processos, pois os nossos advogados acompanharam os casos e pelo que me consta ninguém teve seus salários, proventos mensais cortados, e nem de longe eu sonhei em pleitear ou requerer esse recurso que é oriundo das praças que acreditam em uma PMBA melhor.
Eu falei durante o movimento e reitero, a nossa luta não é por valores pecuniários é por garantia de DIREITOS. Conheço profundamente cada um dos companheiros que assinaram o documento e me recuso a acreditar que tal manifesto tenha partido deles que são pessoas boas, idôneas, de reputação ilibada. Temo que certas pessoas cujos nomes garanto-me do direito de não citá-las por questões éticas estejam tentando implantar a celeuma, a discórdia e a desunião para mais uma vez dividir as praças e continuar manipulando a nossa categoria. Já passou a hora de darmos um basta e dizer a esses ‘senhores de engenho’ que na PMBA há homens e mulheres que pensam, por isso não se deixará levar por vã filosofia, falácias.
Quero alertar que nada do que está acontecendo é novidade para mim, já havia dito que isso ocorreria às poucas pessoas que mantive contato quando estava adoentado e exilado. Considerando que o meu pensamento ainda está voltado para o coletivo e não pára o individual, quero tornar público que se meu pagamento for regularizado que a parte que me couber, e se houver, será dividida em partes iguais para a ASPRA e para Soélia que está diuturnamente, incansável na sede da ASPRA-Ilhéus sem ganhar nada, por ideologia de uma mudança sócio administrativa na PMBA, esse é o escopo da nossa luta, agora ter que ser submetida a essa situação constrangedora, vexatória perante aos colegas e a sociedade ilheense, isso é covardia.
Dinheiro nenhum do mundo vai comprar o que tenho como ideal de vida para mim e para os amigos da PMBA, minha dignidade está acima de tudo. Sábias são as palavras do professor Paulo Freire: ““... Meu papel no mundo não é só o de quem constata o que ocorre, mas o de quem intervém como sujeito ““...”. Não sou apenas objeto da historia, mas sou sujeito igualmente “(1996 p.77)
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